27 agosto 2009

É isto...sou uma sortuda...mesmo!


E eu quero brincar às escondidas contigo e dar-te as minhas roupas, e dizer que gosto dos teus sapatos e sentar-me nos degraus enquanto tu tomas banho, e massajar o teu pescoço e beijar-te os pés e segurar na tua mão e ir comer uma refeição, e não me importar se tu comes a minha comida e encontrar-me contigo no Rudy e falar sobre o dia, e passar à máquina as tuas cartas e carregar as tuas caixas e rir da tua paranóia, e dar-te cassetes que tu não ouves, e ver filmes óptimos, ver filmes horríveis e queixar-me da rádio, e tirar-te fotografias a dormir e levantar-me para te ir buscar café e brioches e folhados, e ir ao Florent beber café à meia-noite e tu a roubares-me os cigarros, e a nunca conseguir achar sequer um fósforo, e falar-te sobre o programa da televisão que vi na noite anterior, e levar-te ao oftalmologista e não rir das tuas piadas e querer-te de manhã mas deixar-te dormir um bocado, e beijar-te as costas e tocar na tua pele e dizer quanto gosto do teu cabelo, dos teus olhos, dos teus lábios, do teu pescoço, dos teus peitos, do teu rabo, do teu sexo, e sentar-me nos degraus a fumar até o teu vizinho chegar a casa e se sentar nos degraus a fumar, até tu chegares a casa, e preocupar-me quando estás atrasada, e ficar surpreendido quando chegas cedo, e dar-te girassóis e ir à tua festa e dançar até ficar todo negro, e pedir desculpa quando estou errado e ficar feliz quando me desculpas, e olhar para as tuas fotografias e desejar ter-te conhecido desde sempre, e ouvir a tua voz no meu ouvido e sentir a tua pele na minha pele, e ficar assustado quando estás zangada, e um dos teus olhos vermelho e o outro azul, e o teu cabelo para a esquerda e o teu rosto para oriente, e dizer-te que és lindíssima e abraçar-te quando estás ansiosa, e amparar-te quando estás magoada, e querer-te quando te cheiro e ofender-te quando te toco, e choramingar quando estou ao pé de ti e choramingar quando não estou, e babar-me para o teu peito, e cobrir-te à noite, e ficar frio quando me tiras o cobertor e quente quando não o fazes, e derreter-me quando sorris e desintegrar-me quando te ris, e não compreender porque é que pensas que eu te estou a deixar quando eu não te estou a deixar, e pensar como é que tu podes achar que eu alguma vez te podia deixar, e pensar quem tu és mas aceitar-te na mesma, e contar-te sobre o rapaz da floresta encantada de árvores-anjo que voou por cima do oceano porque te amava, e escrever-te poemas, e pensar porque é que tu não acreditas em mim, e ter um sentimento tão profundo que para ele não existem palavras, e querer comprar-te um gatinho, do qual teria ciúmes porque teria mais atenção que eu, e atrasar-te na cama quando tens de ir, e chorar como um bebé quando finalmente vais, e ver-me livre das baratas, e comprar-te prendas que tu não queres, e levá-las de volta outra vez, e pedir-te em casamento e tu dizeres não outra vez, mas eu continuar a pedir-te porque embora tu penses que eu não estou a falar a sério eu estou mesmo a falar a sério, desde a primeira vez que te pedi, e vaguear pela cidade pensando que ela está vazia sem ti, e querer aquilo que queres, e achar que me estou a perder mas saber que estou seguro contigo, e contar-te o pior que há em mim, e tentar dar-te o meu melhor porque não mereces menos, e responder às tuas perguntas quando deveria não o fazer, e dizer-te a verdade quando na verdade não o quero, e tentar ser honesto porque sei que preferes assim, e pensar que acabou tudo, mas ficar agarrado a apenas mais dez minutos antes de me atirares para fora da tua vida, e esquecer-me de quem eu sou e tentar chegar mais perto de ti, porque é maravilhoso aprender a conhecer-te e vale bem o esforço, e falar mau alemão contigo e pior ainda em hebreu, e fazer amor contigo às três da manhã e de alguma maneira, de alguma maneira, transmitir algum do esmagador, imortal, irresistível, incondicional, abrangente, preenchedor, desafiante, contínuo e infindável amor que tenho por ti.

Sarah Kane







Fotografia by Marco Guerra
(todos os Direitos reservados)

9 comentários:

BlackQuartzo disse...

Coisas tão simples.
Tão pequenas e no entanto tão grandiosas.... Tanto.


1 beijo

Nuno disse...

é simplesmente lindo.. e a musica e a foto acompanham de igual modo..
não sou de muitas sentimentalidades mas este texto e esta musica bateram-me no fundo..
Eu é que agradeço Patricia..beijo

ron disse...

Espero que não leves a mal mas gostei tanto do post que o copiei a ideia (música/texto) para o meu blog (http://nadar-no-espaco-oco.blogspot.com/2009/08/e-seria-qualquer-coisa-assim.html).

kisses

Patrícia Manhão disse...

black e nuno: ..gostava que vissem o sorriso na minha cara...não há smiles suficientes...nem palavras.

Um beijo ENORME para os dois

Patrícia Manhão disse...

ron: já vi e gostei..:)
Podes roubar à vontade.
A imagem é-me familiar.

E obrigado pelo link :)

Beijo

Nuno de Sousa disse...

Um belo trabalho, imagem mto bem escolhida... bela mesmo e um texto fantástico, e como é bom se brincar :-) como é bom o que escreves e mais não digo :-) ehehhe
Bom fds para ti amiga
Nuno

Gabriel disse...

Lucky?

Yes you are!

...it seems so!


kiss

jc disse...

É verdade!

Cheguei tarde...

mas gosto do que vejo, leio e ouço...

abraça-te

p.s. - vou tentar voltar (a horas...)

jc disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
 
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