No Subject

"Cabelo desalinhado em suor e horas tardias, boxers negros e rodeado de velas e canções escuras, sensações que acontecem em parques de estacionamento subterrâneos e vazios pela noite, ávidos de uma luxúria torturante, onde a densidade se mede pelo calor que a pele destila e faz escorrer caminhos que desaguam onde a fome deseja devorar. As pedras de gelo que sorvo reduzem o sabor de tabacos sul americanos na medida que o céu da boca procura novas doçuras ou a acidez de umas pernas abertas até terminar um qualquer orgasmo que acende a veia nocturna de te torturar mais e mais, como se as palavras te penetrassem e bem fundo te revolvessem a consciência até ao estado de transe forçado por todas as violações que consigas aguentar com alguma lucidez. Não interessam todas as posições porque nunca são as bastantes. Não ouço os teus gemidos porque estás destinada a gritar e ofegar todo o tempo que ainda restar. Não distingo entre a ternura e a violência, não conheço o escrúpulo e o remorso, entendo a violação como destino quando é o teu corpo servido sobre prata, iluminado por néons e esse suor que te cobre, sumo da tua pulsação, óleo da tua avidez, sémen da tua ânsia. Tenho a canção em repeat, o som que navega no interior das tuas coxas, escorregando até ao teu centro, forçando cada vibração em ti, fodendo a tua histeria outra e outra vez, como se a manhã estivesse perto e decidisse terminar a orgia. Uma manhã que ainda tarda, desconhecendo todas as preversões que ainda vão acontecer."






Ai...

Fotografia by Cynthia Cortés
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