Acaba-se o tempo, os lábios, os sonhos.
Acaba-se a mágoa, o choque
-o silêncio.
Acaba-se, quando se acaba, a sensação de que se vai acabar, a pulsão de que se vai dissipar.
Acaba-se o resto e fica-se sobra, acaba-se a água e fica-se lágrimas, acaba-se a saudade
e fica-se poço.
Poço de foste, poço de quero-te, poço de tenho-te.
Poço de não posso, poço de não me posso
–poço.
Mas posso
erguer a voz,
dançar na foz,
trincar a noz,
erguer o nós -
brindar a sós.
Posso dizer-me ar, fazer-me ficar, exigir calar.
Posso lembrar o beijo, lembrar o leito, matar-me a eito –
posso.
Posso cerrar adeus, rogar a Deus, mentir os céus.
Posso ser o que acaba quando encontra
– e nunca encontra;
posso ser o que desiste quando alcança
– e nunca alcança;
posso ser o que abdica quando afaga
– e nunca afaga.
Posso acabar o tempo, acabar os lábios.
Posso acabar a mágoa, o choque
-o silêncio.
Mas não posso
acabar as chamas;
não posso
apagar as lamas.
Não posso –
ainda não posso.
Ainda não posso
acabar –
quando me chamas.
Texto de Pedro Chagas Freitas
(todos os Direitos reservados)
(parece que aconteceu ontem)