05 novembro 2009

Obrigado Pedro



Acaba-se o tempo, os lábios, os sonhos.
Acaba-se a mágoa, o choque

-o silêncio.

Acaba-se, quando se acaba, a sensação de que se vai acabar, a pulsão de que se vai dissipar.
Acaba-se o resto e fica-se sobra, acaba-se a água e fica-se lágrimas, acaba-se a saudade
e fica-se poço.

Poço de foste, poço de quero-te, poço de tenho-te.
Poço de não posso, poço de não me posso

–poço.

Mas posso
erguer a voz,
dançar na foz,
trincar a noz,
erguer o nós -

brindar a sós.

Posso dizer-me ar, fazer-me ficar, exigir calar.
Posso lembrar o beijo, lembrar o leito, matar-me a eito –

posso.

Posso cerrar adeus, rogar a Deus, mentir os céus.
Posso ser o que acaba quando encontra

– e nunca encontra;

posso ser o que desiste quando alcança

– e nunca alcança;

posso ser o que abdica quando afaga

– e nunca afaga.



Posso acabar o tempo, acabar os lábios.
Posso acabar a mágoa, o choque

-o silêncio.

Mas não posso
acabar as chamas;
não posso
apagar as lamas.


Não posso –

ainda não posso.



Ainda não posso
acabar –

quando me chamas.




Texto de Pedro Chagas Freitas
(todos os Direitos reservados)


(parece que aconteceu ontem)







 
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