07 fevereiro 2010

Eles não sabem, nem sonham...



Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste ou capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega e magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela e marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Columbina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.

E que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.



(António Gedeão pela voz de Manuel Freire)




6 comentários:

BlackQuartzo disse...

Eu sonho.

E tu?

:*

Anónimo disse...

Que grande escolha!

lunatiK disse...

Viva
lindo e intemporal este poema.
Bj

GM disse...

Lindíssima e intemporal. Pura inspiração.

Patrícia Manhão disse...

Black: todos os dias. De dia, pelo menos...:*


PepinoeTomates: :)

lunatiK: é mesmo ;)

GM: adoro-a.

Beijos a todos

Moon_T disse...

muito muito bom post!!

:)

 
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